O que Jane Eyre nos ensina sobre herança e partilha de bens

Carolina Surlo Gama

O que Jane Eyre nos ensina sobre herança e partilha de bens

Ao ler Jane Eyre, de Charlotte Brontë, muitas pessoas se encantam com o drama, os amores proibidos e a força da protagonista. Mas quem observa com olhos jurídicos percebe algo a mais: um ponto essencial da história gira em torno de uma herança deixada por um tio sem descendentes.

Sim, além de um romance marcante, Jane Eyre traz uma aula sutil sobre direito sucessório –
ou, em outras palavras, sobre como funciona a herança no Brasil quando uma pessoa morre
sem deixar filhos.

A herança inesperada de Jane

Sem entregar grandes spoilers, o que acontece é o seguinte: Jane, já adulta, recebe uma carta
informando que herdará uma quantia considerável de um tio distante que morava no
exterior. Ele faleceu sem filhos, e ela, como parente próxima, foi chamada à sucessão.

Esse momento muda sua vida – e nos leva a uma pergunta prática: Quem tem direito à
herança quando alguém morre sem deixar filhos?

Como funciona a herança no Brasil?

No Brasil, a ordem de quem herda os bens está prevista no artigo 1.829 do Código Civil.
Funciona assim:

1. Descendentes (filhos, netos), se houver;
2. Ascendentes (pais, avós), se não houver descendentes;
3. Cônjuge sobrevivente, dependendo do regime de bens e se há outros herdeiros;
4. Herdeiros colaterais (irmãos, sobrinhos, tios, primos), na ausência dos anteriores.

No caso da Jane, o tio não tinha filhos, nem esposa, nem pais vivos – então os colaterais
(como ela) foram chamados. Esse tipo de herança é comum, inclusive no Brasil,
especialmente quando não há uma estrutura familiar tradicional.

Curiosidade: no Brasil, se ninguém for localizado para receber a herança, ela é declarada
vacante e vai para o município onde os bens estão situados. Ou seja, o Estado herda!

O que a literatura ensina sobre o direito de herança

A grande sacada de Charlotte Brontë foi retratar algo muito real: o impacto que uma
herança pode ter na vida de alguém – e como as relações familiares, por mais distantes que
pareçam, podem gerar efeitos jurídicos duradouros.

Mesmo numa obra de 1847, temas como partilha de bens e direito de herança continuam
atuais. E até hoje, muitas famílias ainda têm dúvidas sobre testamento, partilha e quem são
os herdeiros legais.

E se fosse hoje?

Se você tem um imóvel, bens ou mesmo valores em conta bancária e deseja que sua herança
vá para alguém específico (ainda que não esteja entre os herdeiros legais), o caminho é
fazer um testamento. Sem ele, a partilha seguirá exatamente a ordem prevista na lei.

Além disso, organizar a documentação e fazer um planejamento sucessório evita conflitos e facilita muito a vida dos familiares no futuro.

Conclusão

A literatura clássica não apenas nos emociona – ela também nos ensina. A história de Jane Eyre mostra que o direito está presente nas nossas vidas mesmo quando não percebemos. E
que entender um pouco mais sobre herança pode evitar surpresas, disputas e injustiças no mundo real.

Se você gostou desse conteúdo e quer ver mais textos conectando direito e literatura, me conta nos comentários! Quem sabe o próximo tema não sai de um livro que você também ama?

Sou Carolina Surlo, advogada especialista em regularização de imóveis e direito das
sucessões, e estou aqui para traduzir o jurídico para a sua vida. Nos livros e fora deles.

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